domingo, 13 de setembro de 2015

Chega uma hora que a hora chega.

  Talvez você não saiba que depois daquela nossa conversa na calçada eu esperei que a luz do celular acendesse e seu nome aparecesse na tela com uma mensagem de "Boa noite, quero falar contigo". Talvez você não saiba que eu percebi que você não quis entrar por medo de não ter coragem de olhar pra tudo que lembra nós e a aflição te criar um nó na garganta a ponto de travar a fala. Mas você sabe que eu vi quando você desviava o rosto e evitava me olhar nos olhos, com medo de se sentir culpado por poder estar deixando o amor da sua vida de maneira tão sútil.
    Eu sei que chega uma hora que a gente tem que falar, de um modo ou de outro, que o outro não é mais do nosso modo. Sei também que a gente idealiza um sentimento e vê que cara a cara a realidade não bate. As vezes bate, bate tanto que até esvazia o coração antes mesmo do fim chegar. Eu sei que o fim chega. Você sabia que ia chegar. Mas não sabia que eu me preparei pra ele, que esperei pela hora de ouvir uma centena de frases explicativas e que possivelmente cumprisse o papel de maquiar a situação. O que nem eu e nem você sabemos é até quando esse misto de sentimentos abstratos vai ficar por aqui.


   Enquanto isso, a ausência bate na porta e traz de acompanhante uma dose de saudade. Olhando pela fresta eu imagino que elas trouxeram um pouco de indecisão para bebermos. Mas sei que você não virá de novo, porque sabe que nem sempre um não quer dizer exatamente não. Dentre as milhares de coisas que sabemos, ficam outras milhares suspensas no ar e o tempo de duração dessas certezas é indefinido. Só que sempre há de chegar uma hora que as coisas chegam. Até lá, nesses encontros casuais, a gente se olha de longe, mas desvia de novo o olhar, pra ninguém perceber que nem tudo é o que parece ser.

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